Os Bastidores de O Mágico de Oz: Os Sacrifícios Por Trás da Fantasia
Poucos filmes na história do cinema são tão icônicos quanto O Mágico de Oz (1939). Adaptado do livro de L. Frank Baum, o longa é celebrado por sua estética vibrante e sua narrativa atemporal. No entanto, os bastidores da produção revelam uma história caótica, marcada por acidentes, negligência e práticas abusivas que exemplificam o lado mais cruel da era de ouro de Hollywood.
As condições físicas do set eram extenuantes, literalmente tóxicas. O calor das luzes necessárias para o Technicolor fazia com que a temperatura passasse dos 40°C, causando desmaios frequentes entre o elenco e a equipe. O famoso campo de papoulas, por exemplo, era decorado com neve feita de amianto, um material altamente tóxico, usado sem qualquer consideração pelas consequências à saúde.
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Os atores sofreram fisicamente com a produção. Buddy Ebsen, escalado originalmente como o Homem de Lata, foi hospitalizado após uma reação severa ao pó de alumínio na maquiagem. Substituído por Jack Haley, este também sofreu com uma infecção ocular causada pela maquiagem alterada.
O Espantalho, interpretado por Ray Bolger, usava uma máscara tão apertada que deixou marcas permanentes em seu rosto por um ano após as filmagens. Burt Lahr, o Leão Covarde, vestia uma fantasia feita com pele real de leão. Pesando cerca de 40 kg e sem ventilação, a peça acumulava tanto suor que precisava ser seca em uma máquina industrial todas as noites.
Margaret Hamilton, a Bruxa Má do Oeste, enfrentou os piores perigos. Durante uma cena em que ela deveria desaparecer em uma nuvem de fumaça, o cronograma falhou, e ela foi gravemente queimada. Com o rosto e mãos lesionados, ela passou semanas em recuperação antes de voltar ao trabalho. Quando recusou repetir a cena, sua dublê foi chamada – e também acabou queimando-se no processo.
"O Mágico de Oz (1939)" Imagem/Reprodução
Judy Garland, então com 17 anos, suportou humilhações constantes. Para interpretar Dorothy, foi submetida a uma dieta restritiva de café, cigarros e comprimidos para emagrecer. Além disso, sua silhueta era constantemente criticada, e sua cintura foi comprimida com espartilhos para aparentar mais jovem. Garland também foi alvo de comportamentos abusivos dos "Munchkins", e a direção chegou a esbofeteá-la durante uma gravação para que "se concentrasse".
As práticas abusivas não se limitavam ao tratamento do elenco. A segurança no set era negligenciada, como evidenciado pelo uso de amianto e efeitos pirotécnicos mal gerenciados. Os salários também eram desiguais: Garland recebeu menos que quase todos os colegas principais, sendo paga apenas um pouco acima do valor recebido pelo cão Toto.
"O Mágico de Oz (1939)" Imagem/Reprodução |
Embora o resultado final seja uma obra-prima visual e cultural, esse filme teve um custo humano elevado. Ainda assim, o filme cimentou seu lugar na história do cinema, ironicamente representando um mundo de sonhos e magia enquanto seus bastidores contavam uma história de sofrimentos reais.
Esta triste realidade destaca como o glamour da era de ouro de Hollywood muitas vezes mascarava práticas predatórias além de qualquer expectativa. O Mágico de Oz é, ao mesmo tempo, um testemunho da genialidade criativa e um lembrete das profundas falhas de uma indústria que explorava sem limites.
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