House of Cards: Capítulo 32 - LGBTfobia, Conflitos Políticos, Morais e Emocionais em Ebulição


No campo minado da política internacional, cada movimento dos Underwood é um passo em direção à glória ou ao abismo. No episódio 6 da terceira temporada, também conhecido como 'Chapter 32', essa dança perigosa os leva a Moscou, onde a sombra do presidente russo Petrov paira sobre suas cabeças como uma tempestade iminente. Enquanto eles buscam a libertação de um ativista LGBT preso, chamado Michael Corrigan, as linhas entre o que é certo e o que é necessário se tornam cada vez mais borradas.

Este episódio não é unânime quanto à sua qualidade e excelência dentro da série, mas é, sem dúvida, pivotal e marcado por momentos de impacto e memoráveis. Ao revisitar desde o início a série, sinto uma onda de nostalgia, mesmo enquanto confronto os desafios éticos que surgem quando artistas são envolvidos em escândalos pessoais. Em meio a minha jornada de redescoberta da série, cheguei ao final deste episódio ciente de que algo impactante estava por vir. Mesmo assim, fui surpreendido pelo desenrolar dos eventos, o que constata a capacidade da série de manter o interesse e a surpresa ao longo do tempo.



"...Suicide is too selfish." – Yates

Capítulo 32 se destaca por sua natureza atípica, levando-nos a uma longa viagem de avião para um cenário distinto do habitual na rotina política em Washington, D.C.. Além disso, este também avança na relação entre Frank e o autor de livros, chamado Thomas Yates, apresentado no episódio anterior, agora encarregado de elaborar uma narrativa para a campanha política de Frank. A interação entre os dois é iniciada a pedido de Frank, após uma crítica casual feita pelo autor a um jogo de vídeo game. Para Frank, essa crítica é comparável à venda mais honesta de um produto. Essa justificativa é habilmente inserida no episódio, já que é de extrema importância para Frank que potenciais eleitores "comprem" sua campanha, assim como ele, mesmo não sendo fã de jogos indies, compraria o jogo pela crítica de Yates.

A trama do Capítulo 32 apresenta uma dinâmica complexa entre os personagens. Doug ainda em recuperação do fatídico ocorrido entre ele e Rachel, está ajudando sua nova chefe, Heather Dunbar, e Gavin, o hacker, sob o pseudônimo de Max, obtendo novos detalhes sobre o paradeiro de Rachel por meio de Lisa, sua ex-namorada, que Gavin agora acredita estar no Novo México. Esses eventos, embora pareçam menos significativos em comparação com outros momentos dramáticos do episódio, destacam nuances importantes nos personagens e na trama.

A relação entre Doug e Heather Dunbar é um ponto focal que sugere a possível sinceridade de Doug em relação ao seu novo papel. Esse desenvolvimento pode indicar uma mudança nas alianças políticas e intrigas futuras, adicionando uma camada de complexidade à narrativa. Por outro lado, a revelação do lado manipulador e enganoso de Gavin é particularmente marcante aqui. Ao mentir para Lisa sobre ter testado positivo para AIDS, a fim de aproximar-se dela para extrair informações sobre Rachel, ele demonstra uma crueldade que contrasta fortemente com sua personalidade anteriormente mais cativante. Essa reviravolta revela as profundezas da ambição de Gavin e sua disposição para manipular aqueles ao seu redor para alcançar seus objetivos; não importando os meios.


"Honestly, i don't think its how humans are built to be with each other for fifty years." – Corrigan

Claire Underwood (Robin Wright), normalmente tão imperturbável, encontra sua humanidade em um encontro enclausurado com Corrigan numa cela prisional, onde a dor e a angústia são palpáveis no ar carregado. Enquanto ela tenta persuadi-lo a fazer uma declaração à mídia russa, com palavras que colocam à prova sua moral, mas abrindo a possibilidade de sua libertação do país (uma situação que também interessa a Petrov e sua narrativa conservadora de governo), Frank luta para manter sua máscara de controle intacta, mesmo quando as paredes começam a se fechar ao seu redor.

A direção de James Foley traz o toque de suspense habitual, enquanto os Underwoods se encontram em um jogo delicado de xadrez político. Cada olhar furtivo, e palavra cuidadosamente escolhida, é uma arma carregada pronta para explodir a qualquer momento. Enquanto o mundo assiste, os Underwoods dançam na corda bamba entre a salvação e a ruína. A viagem para Moscou se torna um palco para confrontos emocionais e revelações dolorosas principalmente sobre o estado de seu casamento. Em fato, o casamento dos dois nunca pareceu tanto um mal negócio, o que também é discutido por Claire e Corrigan na cela.

Quando questionada se lamenta ser casada com Frank por metade de sua vida, ela nega veementemente, dizendo amá-lo. Corrigan responde o contrário quando a mesma pergunta é dirigida para ele e sua relação com outro homem. Corrigan expressa sua descrença no amor que Claire alega ter por Frank, questionando a autenticidade de um vínculo que ele vê como marcado por manipulação e ambição política. Esta troca revela não apenas as dúvidas de Corrigan em relação ao relacionamento de longa data dos Underwoods, mas também adiciona uma nova dimensão ao entendimento do público sobre o casamento de Frank e Claire; casamento este que já foi questionado e posto à prova ao longo dos episódios.



("We’re murderers, Francis.") – Claire ("No, we’re not. We’re survivors.") – Frank

No final, é a confrontação explosiva entre Frank e Claire que ecoa intensamente. Suas palavras cortantes revelam a verdade brutal de seu relacionamento. A tensão é palpável à medida que testemunhamos a deterioração das relações entre os personagens principais. A acusação de Claire de que ela e Frank são assassinos e a resposta de Frank de que são sobreviventes ecoam não apenas as tensões políticas, mas também os dilemas morais que permeiam toda a série. Além disso, a revelação de que Frank questiona a decisão de fazer de Claire embaixadora e a retaliação de Claire, questionando sua própria ascensão à presidência, adiciona uma nova camada de complexidade ao relacionamento dos dois.

A habilidade da série em construir tensão e desenvolver personagens continua evidente neste episódio. Mesmo sabendo que alguma cena seria chocante nesse episódio em especial, a execução é tão poderosa que, apesar de antecipar o choque (por eu me lembrar vagamente dessa temporada), ainda assim fui pego de surpresa. O episódio também conta com um cliffhanger que nos deixa na expectativa da próxima reviravolta na saga dos Underwoods. Com a quebra da quarta parede, nos sentimos como participantes do derradeiro conflito, expectando o constrangimento no rosto de Frank por ser observado em queda livre no abismo emocional onde o episódio nos deixa.

"House of Cards" continua a desafiar minhas expectativas, levando seus personagens a lugares sombrios e inexplorados. A direção habilidosa e as performances poderosas frente as cameras elevam ainda mais a intensidade emocional da narrativa. E com o futuro dos Underwoods em suspense, a única certeza é que o jogo está longe de terminar. Ainda me restam mais algumas dezenas de episódios, os quais, até o momento, estou adorando revisitar.


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O título desta publicação foi atualizado em comemoração ao dia 17 de maio - Dia Internacional de Luta Contra à LGBTfobia.






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