Duna: Parte Dois | Filme Review (Sem Spoiler)

A tão aguardada sequência de Duna Parte Um, dirigida por Denis Villeneuve, que chega mundialmente dia 1º de Março nos cinemas, para dar continuidade à saga épica baseada na obra de Frank Herbert, tinha uma grande responsabilidade sobre os ombros do diretor. Ao assumir a tarefa de conceber o segundo filme, Villeneuve enfrentava a difícil missão de não apenas manter o nível estabelecido por seu antecessor, mas também de elevar a franquia a novos patamares de grandiosidade visual e narrativa.

Desde os primeiros minutos, fica claro que Villeneuve e sua equipe técnica não pouparam esforços para criar um espetáculo visual deslumbrante. O contemplativo do primeiro filme deu lugar a uma abordagem mais objetiva. A trilha sonora tribal marcante do primeiro filme, que despertou muitos espectadores de alguns cochilos no cinema, não está presente com a mesma intensidade nesta continuação, o que, diga-se de passagem, para mim é uma surpresa.

Crítica do primeiro filme

Em minha crítica ao primeiro filme, além de injustamente expectar por escolhas narrativas que não acontecem, eu fui contundente ao mencionar que ele parece acabar no começo do segundo ato ("quando sinto que as coisas finalmente começarão a acontecer, o filme acaba.") É como se o primeiro filme preparasse o terreno para eventos que não chegam a se desdobrar completamente naquele contexto. Agora, em retrospecto, quem sentiu a frustração de ver um filme incompleto, que era sim a 'Parte Um' de uma estrutura narrativa maior, pode respirar com mais tranquilidade ao ver, enfim, a devida 'Parte Dois'. 

"Duna: Parte Dois" consegue amarrar sua narrativa sem deixar o público com o sentimento acima descrito. Além disso, assim como na primeira parte, a qualidade técnica e o apreço artístico permanecem inquestionáveis. Cada quadro em sua continuação é meticulosamente composto, desde os vastos desertos de Arrakis até os interiores suntuosos das espaçonaves. Não estamos em qualquer deserto aqui. Não estamos no planeta Terra. Em nenhum momento penso em locação cinematográfica. E quanto mais exploram cada canto desse mundo, e sua arquitetura, mais admirado fico. A direção de arte é um dos pontos altos do filme, com cada detalhe dos trajes, cenários e naves espaciais contribuindo para a imersão. 

Outro grande aspecto técnico que merece destaque é a cinematografia de Greig Fraser, que captura a vastidão e a beleza perigosa de Arrakis de forma impressionante. Os cenários desolados, as dunas de areia em constante movimento e os céus estrelados criam uma atmosfera que transporta o espectador para o mundo fictício de Herbert. A utilização do formato IMAX é especialmente eficaz, ampliando a experiência visual e proporcionando uma imersão maior.




Warner Bros. Pictures

No que diz respeito à narrativa, a Parte Dois apresenta algumas divergências em relação ao material original, como é de se esperar em adaptações para o cinema. No entanto, essas mudanças são em sua maioria justificadas e contribuem para a fluidez da trama. Personagens podem ter destinos diferentes e certos eventos podem ocorrer de maneira alterada, mas o cerne da história permanece intacto.

As performances do elenco são outro destaque. Rebecca Ferguson brilha como Lady Jessica, trazendo uma complexidade fascinante para a matriarca da Casa Atreides. Florence Pugh e Austin Butler desempenham papéis fundamentais, sendo Butler o ator que mais parece estar genuinamente envolvido e aproveitando seu papel. Javier Bardem também merece menção pela sua atuação de sutilezas engraçadas, mas também imponente como Stilgar, líder dos Fremen. Uma das maiores surpresas do filme é a maneira como as Bene Gesserit são retratadas. A misteriosa ordem feminina, tão crucial para o universo de Duna, é explorada com mais profundidade, revelando suas manipulações sutis e agendas ocultas. Ferguson e Lea Seydoux entregam performances magnéticas, destacando a complexidade dessas personagens.

Por fim, Timothée Chalamet entrega uma interpretação convincente como Paul Atreides, capturando tanto a vulnerabilidade quanto a determinação do personagem, e surpreende em alguns momentos. A relação desenvolvida rapidamente entre seu personagem e Chani, vivida por Zendaya, é fluida – algo esperado desde o primeiro filme. O que não é esperado, no entanto, especialmente para quem não leu os livros, eu deixo em Off por enquanto.


Warner Bros. Pictures

Em termos de ritmo, o filme mantém um equilíbrio cuidadoso entre cenas de ação intensas e momentos de desenvolvimento de personagens. Ele consegue explorar as nuances da política intergaláctica, as tensões entre as casas nobres e a jornada de autodescoberta de Paul sem perder o fôlego. A trilha sonora de Hans Zimmer, com notas envolventes, complementa perfeitamente a narrativa, elevando as cenas de ação e os momentos de tensão. A mistura de sons eletrônicos e instrumentação clássica cria uma atmosfera única que ecoa os temas de poder e destino presentes na obra de Herbert.

"Duna: Parte Dois" é uma conquista cinematográfica que honra sua fonte de origem com pouca ou nenhuma ressalva. Com uma direção visual deslumbrante, performances marcantes e uma narrativa envolvente, o filme se destaca como uma das adaptações mais fiéis e ambiciosas do universo de Duna até agora. Para os fãs da obra de Herbert e para os amantes de ficção científica, esta continuação é um verdadeiro presente, oferecendo uma experiência cinematográfica imersiva e impressionante. E para aqueles que se frustraram com o primeiro filme, mas estão considerando assistir ao segundo, podendo não serem conquistados mesmo pela sua grandiosidade, talvez esse não seja o momento ideal para consumi-lo. Minha sugestão: esperem alguns anos e revisitem. Opiniões podem mudar.






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