Top 5 Filmes do Ano – Uma Lista Intimista das Narrativas que me Cativaram


Há alguns dias, compartilhei o meu Top 5 de séries do ano, sem a menor intenção de criar também uma lista dos melhores filmes de 2023, mas percebi que deveria fazê-lo. Assim, de maneira improvisada, dediquei algum tempo a pesquisar os lançamentos do ano e compilei uma quantidade considerável de títulos que, com certa folga, poderiam ser considerados os melhores. No entanto, evitei seguir o caminho comum de enaltecer as escolhas óbvias.

Embora seja inegável que 'Oppenheimer', ao lado de 'Barbie' e 'Homem-Aranha: Através do Aranhaverso', tenha se destacado como um verdadeiro fenômeno de audiência, sinto a necessidade de destacar filmes que, sob meu ponto de vista pessoal e intimista, foram os melhores. Da mesma forma como abordei na minha modesta lista de séries do ano, busco explorar aquilo que me toca, que me atrai e julgo cativante. Dessa forma, tento escapar do convencional e proporcionar uma visão mais singular e pessoal sobre as produções cinematográficas que mais me marcaram este ano.






1. Lançado em Junho nos EUA, com data incerta de lançamento nos cinemas Brasileiros, mas disponível para aluguel, "Past Lives" (Vidas Passadas) é um delicado retrato sobre o primeiro amor e o impacto de nossas escolhas. O filme explora a complexidade dessas decisões, que, apesar de parecerem certas, muitas vezes se revelam dolorosas em suas vidas; e destaca a jornada do amadurecimento, lembrando de que parte desse processo envolve aprender a deixar o passado para trás.

Greta Lee (que também deu voz a personagem LYLA em 'Através do Aranhaverso'), interpreta a dramaturga Nora, e Teo Yoo é Hae Sung. Ambos se conhecem desde a pré-adolescência, mas Nora deixa o país natal. Só voltam a se falar depois de adultos. O que me chama a atenção é como o tema se desenvolve no presente, com Nora casada com um homem branco em Nova York, distante de tudo que conhecia na Coreia do Sul, mas ainda ligada a essa pessoa da infância, que demonstra imenso interesse e conexão.

Acho interessante também a interação tardia dos dois e a aparente falta de ação de ambos sobre o 'elefante na sala' – o grande motivo que os unem novamente no tempo. Uma tomada de atitude parece fácil, mas há verdade no silêncio trocado pelos dois. E mesmo depois de tudo ser dito e conciliado, resta-nos a incerteza. Acredito que esse filme possa ressoar com o grande público, e fazer pensar se não poderia ser diferente o destino dos dois.

Segundo uma entrevista com Celine Song, diretora estreante, para o site The Guardian, em 27 de agosto de 2023, ela se inspirou em suas próprias experiências de infância para criar o filme. Ela cresceu em uma família coreano-americana e se mudou para os Estados Unidos quando era criança. Essa experiência de separação de sua cultura e de seus amigos de infância se refletiu no filme, que explora a relação entre Nora e Hae Sung. Além dessa semelhança, Song já havia passado uma década como dramaturga. Agora ela sabia que queria trocar o teatro pelo cinema.





2. Lançado em maio, "Guardiões da Galáxia: Volume 3" quebra um pouco o gelo; esse filme foi, sem dúvidas, o melhor encerramento que a trilogia poderia ter. Com a direção do habilidoso contador de histórias James Gunn, o filme encerra com glória sua passagem de longa data pela Marvel Studios. A história se desenrola de forma autônoma, contendo uma ou outra referência aos filmes anteriores dos Vingadores, como a Gamora do passado, por exemplo, no lugar daquela sacrificada em 'Ultimato' com a qual nos importávamos.

O foco desta vez está no personagem 3D Rocket Racoon, na voz de Bradley Cooper (Maestro). Seu passado nunca pareceu tão necessário, mas a história contada aqui, que poderia soar episódica, ganha proporções épicas, fazendo jus ao nome do grupo de desajustados que não apenas salvam o dia de um grande vilão, mas também se reinventam, trazendo novos rostos ao time.




3. Lançado em dezembro, "Godzilla Minus One" chamou minha atenção pela história paralela do piloto traumatizado chamado Kamiki e sua jornada de redenção e reconstrução em um mundo devastado pelo Godzilla. O trauma da guerra o deixou com pesadelos e ansiedade, e ele se sente culpado por sobreviver a um ataque que ceifa a vida dos seus companheiros. Quando Godzilla surge, Kamiki vê uma oportunidade de se redimir ao se juntar ao esforço para parar o monstro, na esperança de superar seu trauma.

Ao mesmo tempo, Kamiki está tentando reconstruir sua vida. Ele tem ao seu lado pessoas que se tornam importantes as quais poderua chamar de família, pois vivem sob o mesmo teto. Mas o medo do Godzilla está sempre presente, e ele sabe que o monstro pode atacar a qualquer momento, deixando-o constantemente preocupado. Esse paralelo, junto a destruição esperada nesse tipo de filme, é a parte que me aproxima da história e me faz torcer; toda aquela sequência no trabalho em alto-mar, remetendo ao clássico filme "Tubarão" de Steven Spielberg é muito legal de ver...; torna-se importante essa relação casa e trabalho, ajudando a humanizar a narrativa de Godzilla e mostrar o impacto que o monstro tem nas pessoas. Esse é o filme resposta que eu esperava ver este ano ao superestimado "Oppenheimer" de Christopher Nolan.




4. "Retratos Fantasmas", dirigido por Kleber Mendonça Filho, ganha destaque na quarta posição. Ele é um documentário envolvente que se desenrola no coração do Recife, Pernambuco, explorando a rica história dos cinemas de rua que foram pilares fundamentais do cenário cultural e de entretenimento durante o século XX.

A grandiosidade aqui reside numa abordagem documental, fundamentada em imagens reais, como fotografias, filmagens de arquivo e entrevistas com aqueles que vivenciaram ou contribuíram para os cinemas de rua do Recife. Desde a construção desses espaços até o seu declínio, o filme utiliza essas imagens de forma magistral para contar uma história que transcende o tempo e resgata um legado cultural.

Um tanto saudosista, o filme cria uma atmosfera melancólica ao reunir memórias de um tempo que se foi; seu diretor realiza uma pesquisa cuidadosa, inicialmente sobre o seu cinema de guerrilha, justificando o uso do apartamento da família em todos os seus trabalhos de início de carreira, lidando com a importância de se trabalhar com os recursos que se tem, para depois mergulhar nas vivências de dezenas de pessoas ligadas aos cinemas de rua recifenses, narrando suas histórias de forma envolvente e informativa. 

Além disso, o filme se destaca como uma obra de reflexão crítica, utilizando a história desses cinemas para abordar temas cruciais como a transformação urbana, a preservação da memória e o papel essencial da cultura na sociedade.


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5. Lançado em abril, "Beau Tem Medo" é o filme que poderia facilmente estar fora dessa lista. No entanto, como a ideia é fugir um pouco do óbvio e das longas listas de fim de ano, com títulos populares que, sinceramente, eu não gostei, acredito ser essa a escolha perfeita para encerrar meu top 5.

Essa inusitada narrativa, dirigida por Ari Aster (Hereditário), cuja ficha técnica chama de "Terror/Comédia", conta a história de um homem adulto com medo de tudo, num alucinante e profundo estudo sobre a culpa. Em certo momento, Beau, vivido brilhantemente por Joaquin Phoenix, perde a chave do apartamento e toma um remédio fictício para ansiedade, que precisa ser ingerido com água, mas, na falta de água, ele deverá sair do apartamento para comprar do outro lado da rua. 

Considerando os efeitos colaterais do remédio ingerido sem água e o cenário apocalíptico representado pela sua rua, Beau sente-se obrigado a sair do apartamento, mesmo sabendo que pessoas poderão invadi-lo na sua ausência. É inventivo como tudo isso é mostrado.

Além do absurdismo em sua narrativa, tanto a fotografia quanto a direção de arte chamaram a minha atenção positivamente. Phoenix convence no papel e parece se divertir. Eu acho hilário. Mas apenas citei uma das diversas sequências viajadas desse filme que vale ser visto e discutido mais vezes. Além disso, as atrizes Parker Posey e Patti LuPone surpreendem.


* * *

Os filmes mais comentados de 2023 que ainda não tive a oportunidade de assistir incluem: "Priscilla", "Maestro", "Wonka", "Aquaman 2: O Reino Perdido", "Wish: O Poder dos Desejos", "Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes", "Eileen", "Problemista", "A Cor Púrpura", "Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes", "Skinamarink: Canção de Ninar", "Bottoms", "When Evil Lurks", "La Chimera", "O Sequestro do Voo 375", "Napoleão", "Monstro" e "Assassinos da Lua das Flores".

☝️ Faço menção aos divertidos "Que Horas eu te Pego" e "Eles Clonaram Tyrone", ao encantador live-action de "A Pequena Sereia", à emocionante animação "Elementos", ao único horror do ano que eu vi e gostei "A Morte do Dêmonio - A Ascensão", ao inovador terror "Ninguém Vai Te Salvar", ao instigante "O Mundo Depois de Nós", ao impactante suspense erótico "Fair Play" e ao extravagante "Saltburn", lançado há poucos dias direto no streaming.

Vale lembrar que alguns destaques de 2023 ainda não estão disponíveis no Brasil, incluindo "Pobres Criaturas", "O Menino e a Garça", "May December", "Zona de Interesse", "Os Rejeitados", "American Fiction" e "Anatomia de uma Queda", que devem aparecer nas principais categorias do Oscar 2024.





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