Fale Comigo e o Sentimento Oculto Em Seu Subtexto (Especial de Halloween)

"Talk To Me" ("Fale Comigo") é um filme de terror sobrenatural da A24, dirigido pelos irmãos Danny e Michael Philippou, do qual eu consigo gostar e desgostar com a mesma intensidade e medida.

O filme acompanha um grupo de jovens que faz uma descoberta inesperada: uma mão embalsamada que lhes concede o poder de invocar espíritos. Inicialmente, eles usam esse dom para diversão, porém, com o tempo, a empolgação de se conectar com o além toma conta deles, levando-os a uma obsessão perigosa, onde a comunicação com os espíritos e a possibilidade de serem possuídos se tornam irresistíveis.




"Acenda a vela para abrir a porta. Sopre para fechá-la. Coloque sua mão nisso. Agora diga: Fale comigo."

Em primeiro lugar, a juventude do elenco e suas atitudes impulsivas podem ser alienantes para alguns espectadores, dificultando a empatia pelos personagens. No entanto, ao olhar para esses jovens que buscam desesperadamente sensações, logo se destaca uma interpretação oculta do filme que muitos podem ter deixado passar.

O elenco jovem possui atitudes que podem ser consideradas estúpidas o suficiente para despertar o desinteresse do público. Com exceção dos adultos, o elenco central de jovens é essencialmente irresponsável e inconsequente. Sabendo dessa escolha proposital do filme, e sua premissa assumidamente pessimista, é que eu baseio a minha parcela de desinteresse. 

Contudo, ainda gosto do filme pelo mesmo motivo que me repele: esses jovens inconsequentes refletem uma realidade palpável sobre a curiosidade desenfreada, que pode levar a consequências terríveis.


"Você nunca ficará sozinha. Você sempre terá a mim e a Jade."

O aspecto que pode ser negligenciado, possivelmente devido à sua natureza específica e, portanto, oculta, fala sobre uma sensação, um sentimento que acompanha esses jovens. Buscando desesperadamente qualquer tipo de interação, mesmo que isso signifique prejudicar os outros em suas "brincadeiras" é como levam a história adiante.

Uma cena que ilustra muito bem o sentimento oculto, de maneira subliminar para a maioria do público, é quando a protagonista, Mia (interpretada por Sophie Wilde), está dirigindo com Riley (vivido por Joe Bird) e, no trajeto até sua casa, eles aumentam o volume do rádio ao máximo e entoam em alto e bom som cada verso de "Chandelier", um dos Hits musicais mais difundidos dos últimos tempos; composta pela talentosa cantora e compositora Sia, conhecida por suas perucas que cobrem o rosto.



Essa cena musicada que pode parecer aleatória, simboliza uma busca por superficialidade e escapismo em detrimento de uma conexão mais profunda. No entanto, é importante reconhecer que a escolha da música também pode servir para criar contraste e ironia na narrativa do filme.

Levando em consideração que "Chandelier" é uma música pop emocionalmente intensa que descreve a jornada de alguém que utiliza a dança e a festa como escape para lidar com suas emoções e frustrações internas, além de abordar a necessidade de se sentir viva e escapar da tristeza e dos problemas, fica claro o propósito de sua utilização nessa cena. 

Portanto, a escolha da música pode ser interpretada como uma representação simbólica de uma busca incessante por sensações que caracterizam a vida dos personagens do filme. Isso acrescenta uma camada de crítica à superficialidade da cultura contemporânea à minha visão inicial do filme.

"Eu senti como se estivesse brilhando. Eu podia ouvir, ver e sentir tudo. Mas eu estava no banco do passageiro."

Além disso, ainda através da cena no carro onde os jovens cantam a música pop, o(s) diretor(es) pode(m) comentar sobre a sociedade contemporânea, incluindo os jovens que muitas vezes buscam a efemeridade da cultura pop para preencher um vazio emocional. A escolha de "Chandelier", uma música que fala sobre fugir da tristeza e dos problemas, pode ser uma maneira sutil de criticar essa mentalidade.

Considerando também o tema sobrenatural de possessão espiritual, sugerida em seu argumento com a mão embalsamada a qual os jovens devem segurar e falar as palavras que dão título ao filme ("Fale Comigo") seguido de "Eu te deixo entrar" é que se pode presumir a sensação de vazio existencial e a necessidade irracional de pertencimento que acompanha esses jovens.

Assim, "Fale Comigo" revela o horror de um grupo de jovens que buscam desesperadamente o significado e a conexão em um mundo marcado pela superficialidade e pela fuga das próprias emoções. No final, o verdadeiro terror não está nos espíritos que invocam, mas na falta de propósito e no vazio que tentam preencher de maneira tão inconsequente. É um lembrete perturbador de como o terror pode estar oculto nas profundezas de sua busca por significado.





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