Greve em Hollywood: O que se sabe sobre os protestos dos sindicatos de atores e roteiristas

Em uma data emblemática, 13 de julho à meia-noite, a renomada indústria do cinema de Hollywood foi surpreendida por um desafio imprevisto. O SAG-AFTRA, sindicato que representa atores e artistas da região, declarou uma greve abrangente, protestando contra os principais estúdios de cinema e televisão.

O alerta vermelho está dado, e más notícias assolam o setor do entretenimento. Com a paralisação deste importante sindicato, milhões de profissionais enfrentarão o desemprego, causando um impacto significativo na economia. A ganância emerge como um dos elementos que contribuem para agravar essa conjuntura, resultando em perdas financeiras expressivas todos os dias. Considerando que o sindicato de roteiristas já estava em greve antes da adesão dos atores, a industria cinematográfica e televisiva daquela região se vê diante de uma imensa paralisação sem precedentes.

A seguir, propomos uma analise sobre a situação atual em Hollywood, explorando as motivações que uniram os atores à greve, os alvos de seus protestos e as possíveis repercussões para o futuro da indústria do entretenimento. Um momento crucial que levanta questionamentos sobre o destino deste universo tão admirado por milhões de espectadores.

Fran Drescher - presidente do sindicato SAG-AFTRA

A sigla SAG tem sido amplamente mencionada recentemente, mas muitos podem não estar familiarizados com sua representação completa, SAG-AFTRA, que se refere ao Screen Actors Guild Federation of Television and Radio Artists. 

Trata-se de uma poderosa união estadunidense que abrange mais de 160.000 profissionais da indústria criativa. Sua função vai além de representar atores, incluindo locutores, comunicadores, dançarinos, profissionais de áudio, escritores, editores de conteúdo, apresentadores de programas, cantores, dubladores mais uma ampla gama de especialistas atuantes no cenário midiático.

A principal missão do SAG-AFTRA é negociar contratos em nome de seus membros, garantindo tratamento justo nos sets de filmagem. Eles buscam assegurar salários e compensações adequados, evitando qualquer tipo de exploração e protegendo os direitos artísticos. Suas responsabilidades envolvem assegurar que os artistas sejam bem assistidos durante as filmagens, incluindo questões como alimentação adequada, medidas de segurança, instalações de descanso e bem-estar geral.

☝️Vale ressaltar que apenas 2% dos atores em Hollywood são as grandes estrelas que todos conhecemos, ganhando enormes fortunas em blockbusters. A realidade é que a grande maioria dos atores enfrenta desafios diários em suas carreiras. Segundo dados do The Guardian, a maioria luta para sobreviver com a profissão.

Sendo assim, o SAG-AFTRA renova os contratos para seus membros a cada três anos. Neste ano, as negociações foram intensificadas devido à influência do Sindicato de Roteiristas. Para se preparar adequadamente, o SAG-AFTRA submeteu a votação de autorização de greve para seus associados, perguntando se estariam dispostos a fazer uma manifestação caso não se chegasse a um acordo justo. A resposta foi positiva, com 98% dos associados a favor.



Após a provação da greve, o SAG conseguiu claramente uma vantagem significativa para as discussões em andamento com o Alliance of Motion Picture and Television Producers (AMPTP). Essa organização, que fala por mais de 350 luminares do mundo cinematográfico e televisivo, incluindo os pesos-pesados como Universal Studios, Warner Brothers, Paramount Pictures, Sony Pictures e Disney Studios, bem como os nomes de destaque ABC, NBC, CBS e Fox, não esquecendo as plataformas de streaming que todos nós adoramos, como Amazon, Apple TV e Netflix, entre outros.

☝️A dificuldade em alcançar um consenso entre o SAG-AFTRA e o AMPTP se deve, parcialmente, a situação atual da indústria. Com o surgimento crescente do conteúdo por meio de assinaturas e plataformas de streaming, as gigantes corporações se veem confrontadas por obstáculos para ampliar suas receitas, dado que o limite máximo de assinantes é alcançado. Isso leva a uma crescente pressão de Wall Street e de investidores para maximizar os ganhos, tornando-as relutantes em aumentar os salários dos artistas, temendo que isso impacte seus resultados financeiros.

Considerando as mudanças significativas ocorridas nos últimos três anos, com a pandemia, novas tecnologias e a inflação, os contratos de renovação precisam se adequar à realidade atual da indústria. Caso contrário, manter os salários inalterados não refletiria adequadamente o cenário em constante evolução do setor. 
Todo o modelo de negócios foi alterado pelo streaming digital. Não vamos continuar fazendo mudanças incrementais em um contrato que não honra mais o que está acontecendo agora com esse modelo de negócio que nos foi imposto. Eu não consigo acreditar, francamente, em quão distantes estamos em tantas coisas, em como eles alegam pobreza, que estão perdendo dinheiro à esquerda e à direita enquanto dão centenas de milhões de dólares aos seus CEO's.
(Fran Drescher)







A AMPTP tem enfrentado consideráveis críticas em relação à sua abordagem nas discussões com roteiristas, atores e outros profissionais da indústria do entretenimento. A organização tem sido acusada de adotar uma postura excessivamente ávida por lucros, exercendo uma pressão intensa sobre os trabalhadores para que eles abram mão de suas demandas.

☝️Um recente artigo na Vanity Fair, amplamente divulgado, apresentou um relato sombrio e perturbador, dizendo: "De acordo com um relatório do Deadline, a AMPTP está em greve a longo prazo - com um plano para deixar o Writers Guild of America (WGA) 'sangrar' antes de retomar as negociações. 'O objetivo final é permitir que as coisas se arrastem até que os membros do sindicato comecem a perder seus apartamentos e suas casas', disse uma fonte ao trade."

A situação se tornou um ponto de interesse em Wall Street, que tem aplaudido a atitude dos estúdios e streamers, incluindo grandes nomes como Warner Brothers, Discovery, Apple, Netflix, Amazon, Disney e Paramount, na busca para enfraquecer o WGA. Essas ações já estavam em discussão há meses, mesmo antes do início da greve do WGA, e foram tomadas como uma medida necessária pelos executivos.

A luta entre as corporações e os trabalhadores, que muitas vezes vivem uma existência precária, saltando de emprego em emprego, é uma realidade preocupante para os criativos, atores e roteiristas, que enfrentam desafios econômicos fora dos 2% mais bem-sucedidos.

☝️Uma das questões centrais da greve do SAG-AFTRA é relacionada às participações, que são uma porcentagem recebida pelos atores quando seus trabalhos são exibidos na TV ou em plataformas de streaming, conhecidos também como "residuals". 

☝️O advento do streaming trouxe uma mudança significativa na forma como os programas são exibidos e distribuídos, mas os contratos anteriores não previam essas novas realidades. Para muitos atores, essas participações são essenciais para complementar sua renda, pois a indústria cinematográfica é caracterizada por sua natureza temporária e incerta. No entanto, a quantia recebida atualmente pode ser insuficiente para sustentá-los adequadamente entre os trabalhos.

Outra preocupação levantada pelo SAG-AFTRA é a regulamentação da inteligência artificial, especialmente no que diz respeito aos figurantes criados por essa tecnologia. Com o avanço rápido da IA, produções têm proposto escanear os rostos de figurantes para usar sua aparência de forma perpétua, inserindo-os digitalmente no fundo de episódios de séries de televisão ou filmes. 

Essa prática pode afetar negativamente esses atores, que correm o risco de perder oportunidades de trabalho em produções futuras. Considerando esta uma porta de entrada para muitos atores com aspirações na carreira, a função de figurante pode estar caminhando para um fim iminente, tornando a vida desses profissionais ainda mais desafiadora. 

No cenário atual, surge uma crescente inquietação por parte do SAG-AFTRA a respeito da redução do número de episódios em cada temporada televisiva. Tal redução acaba por encurtar as oportunidades de trabalho para os talentosos atores, lançando-os em situações desafiadoras ao tentar manter um fluxo de renda estável durante os períodos mais prolongados.

Nesse intrincado panorama, as conversações entre a AMPTP e os sindicatos têm demonstrado uma intensidade palpável. Questões cruciais estão em jogo, projetando suas sombras sobre o porvir da indústria do entretenimento e o bem-estar daqueles que a compõem. A busca incessante por respostas justas e equitativas continua a ser o epicentro das discussões. Ambas as partes defendem seus interesses com fervor, empenhando-se na busca de pontos convergentes, que possam amplificar os benefícios estendidos a todos os participantes do vasto universo do cinema e da televisão.
A chamada 'Proposta Inovadora de IA' da AMPTP, que tem o potencial de eliminar um caminho inteiro para entrar na indústria, bem como uma fonte confiável de renda para muitos. As propostas relatadas dependem da capacidade dos atores de fundo serem escaneados e receberem o pagamento por um dia de trabalho, e para a empresa ser proprietária da varredura de sua imagem, sua semelhança, e poder usá-la para o resto da eternidade em qualquer projeto que desejarem, sem consentimento e sem compensação.
(Rolling Stone)

Dentro dos meandros fascinantes da sétima arte, os talentos que colorem o cenário como coadjuvantes desfrutam de um honorário diário que oscila entre uma faixa de 100 a 200 dólares. Essa relação contratual traz consigo a prerrogativa de os estúdios incorporarem a presença visual desses artistas em um fluxo contínuo, sem que haja necessidade de retribuições suplementares, o que pode resultar em ganhos significativos a partir do conteúdo produzido.

Novas tecnologias desafiam a proteção dos direitos dos atores

Além disso, o avanço das tecnologias tem possibilitado a criação de personas artificiais que podem replicar o comportamento e fala humanos, tornando-se capazes até mesmo de apresentar noticiários. Nesse contexto, o SAG-AFTRA assume um papel fundamental ao buscar proteger os interesses dos atores, garantindo que a sua presença e trabalho não sejam substituídos pelo uso indiscriminado dessas inovações.

O impacto da greve do SAG sobre os atores

Atualmente, a greve empreendida pelo SAG resulta em uma série de restrições impostas aos atores membros do sindicato. Eles se encontram impedidos de realizar audições ou participar de projetos, além de não poderem atravessar as linhas de piquete, seja para trabalhar nos estúdios ou em locações externas. É importante ressaltar que o descumprimento dessas normas acarretará em multas e possíveis expulsões do sindicato.

Limitações adicionais na participação de eventos promocionais

Outro aspecto relevante é que, durante o período de greve, os atores também estão proibidos de se envolver em qualquer atividade promocional relacionada a projetos cinematográficos. Essas medidas restritivas visam fortalecer a posição dos atores no mercado e garantir uma maior proteção aos seus direitos e condições de trabalho.
Os membros do sindicato serão proibidos de participar de atividades promocionais solicitadas por seus contratos, incluindo turnês, aparições, entrevistas, convenções, exposições de fãs, festivais, painéis, estreias, exibições, shows de premiação, junkets, participações em podcasts e mídias sociais.
(New York Times)


Elenco de "Oppenheimer" em Premiere

Estrelas de "Oppenheimer", o aguardado filme dirigido por Christopher Nolan, foram obrigadas a se ausentar da premiere na última quinta-feira, 13 de julho, devido à sua afiliação ao sindicato, uma demonstração de apoio à união. Os atores estão reafirmando seu poder diante dos grandes estúdios e mostrando sua disposição em unir forças durante a greve.

Essa situação levanta questionamentos sobre o futuro de Hollywood. Ninguém sabe quanto tempo a greve vai durar, e o artigo mencionado anteriormente fala sobre como a AMPTP (alegadamente) espera que os diferentes trabalhadores 'sangrem' dinheiro e percam suas casas, mas vale lembrar que os criativos de Hollywood não são os únicos que vão perder dinheiro, pois, a cada dia que passam sob essas greves tais corporações e estúdios perdem milhões e milhões de dólares, considerando que o Writers Guild of America (WGA) já está em greve há dois meses, resultando na escassez de conteúdo roteirizado para filmar.

☝️Com as paralisações em curso, toda a produção de conteúdo roteirizado encontra-se em suspenso, impactando não somente os roteiristas e intérpretes, mas também diretores, produtores, membros das equipes de apoio, iluminação, áudio e uma miríade de outros criativos que desempenham papéis essenciais na esfera cinematográfica.

Embora as grandes empresas possuam recursos financeiros substanciais para fazer frente a esta crise, tal dinâmica não se reflete nos trabalhadores incansáveis, os verdadeiros visionários e gênios por trás da indústria, que se veem enfrentando obstáculos para se sustentarem durante este período de paralisação.

É crucial ponderar sobre como essa conjuntura lança luz sobre disparidades arraigadas na estrutura da indústria cinematográfica, onde alguns desfrutam de recursos opulentos para enfrentar momentos adversos, enquanto outros encaram desafios monetários de magnitude expressiva.





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